ARNY WEBSTEM

Arny se perde em pensamentos olhando pela janela do ônibus que segue a estrada, pavimentada, até o centro de Everet Falls.

O caminho não era longo e as pessoas eram sempre as mesmas, pois era o único ônibus disponibilizado pela prefeitura para o subúrbio de Rockested, e se poderia verificar de longe como o ônibus carecia de manutenção básica.

O velho Jack, motorista de sempre, que fazia as vezes de mecânico, mas com o tempo passando, essa era uma função que ele mesmo parecia estar ignorando. Por vezes o ônibus quebrava, e o restante da viagem tinha que ser a pé, as vezes debaixo de muita chuva.

Ao se aproximarem do centro, Arny parecia sentir que saia de um ambiente "preto e branco", para um lugar de cores vivas, ruas limpas, até as arvores pareciam mais verdes. Não podia deixar de notar, sempre, os olhares de algumas pessoas contrárias àquelas pessoas dentro do ônibus, se dependessem delas, Arny acreditada que nunca poderia ir ao centro, mas não era todas, muitos eram simpáticos sem qualquer falsidade, como o Padre Herny, que ficava todas as manhãs acenando e dando bom dia as pessoas nas ruas, sempre acompanhado do seu auxiliar o Sr. Eduard. 



Mas muitos não faziam muita questão de exalar simpatia, como o Sherife  Orbs, que sempre olhava com desconfiança para o ônibus dos "negros".



Arny, vê seu pai descendo do ônibus para o serviço, sem ao menos se despedir dos filhos, alias, como sempre fazia. O ônibus segue mais um tempo e para, não na frente da escola municipal de Everet Falls, e sim, uns quarteirões mais afastado,. Isso irritava Arny, mas parecia que sua irmã nem se importava.

Eles descem do ônibus, junto com outras crianças negras, e seguem todos para a escola. Arny percebia que alguns "cidadãos" procuravam mudar de calçada com a aproximação do grupo de crianças, mas preferia sempre ignorar isso, e pensava no dia que chegasse à cidade com seu cadilac, mostrando a todos como venceu na vida.



Ao se aproximarem da escola, sua irmã já se afasta dele, como sempre sem dizer um "até logo", e se junta à suas amigas. Arny, fazia o percurso sempre sozinho até sua sala de aula, e se encontrava com Berny, que sempre chegava mais cedo.



A situação de Berny era ainda pior, ele morava mais afastado ainda, num sítio, e fazia o caminho para a escola na garupa de uma bicicleta que seu pai tinha, pois não tinham como chegar no horário do ônibus. Mas no retorno, Arny sempre que podia ia com Berny e se despediam na entrada do subúrbio, enquanto o amigo seguia sozinho pela estrada por mais alguns quilômetros.  

Na entrada da sala de aula Berny logo cumprimenta Arny.

- Oi Arrny! tudo tranquilo? calma! calma! logo a Suzanna chega! hahahahaha

Arny apenas dá uma olhada para Berny, ele sabia da sua "queda" por Suzanna, e seu amigo continua:

- O que podemos fazer hoje após a aula? o dia tá joia, tenho algumas moedas, podemos comprar uns doces na loja do senhor Lombardi, quem sabe podemos convidar Suzanna para ir com a gente.

Logo depois Arny, pela janela da sua sala, vê o carro do Sherife Orbs estacionando na frente da escola e ele descendo, como sempre, com as mãos na sua cintura e os óculos escuros, com sua arma a mostra e vindo do outro lado do carro para abrir a porta para Suzanna, ele sempre fazia questão disso.

Suzanna descia do carro, ouvia os conselhos do seu pai, e seguia para dentro da escola, sob supervisão atenta dos olhares do seu progenitor. Mas logo Arny retorna à realidade quando professor entra na sala e pede para que todos se sentem e comecem abrir os livros.

Arny abre seus olhos e olha para teto (aquele mesmo teto que seu irmão ficava jogando uma bolinha de tênis velha e contando suas histórias), ele suspira imaginando começar o dia diferente com mais harmonia.

Arny se levanta com passos sorrateiros para não fazer barulho no piso que é de madeira alias bem velha como sua casa, vai até o quarto de sua mãe e a vê ali deitada num sono profundo Arny sabe que ela passou a maior parte da noite acordada tentando ganhar uns centavos a mais fazendo suas costuras para as pessoas brancas e ricas que no geral pagavam uma miséria e isso o deixava com certa raiva.

Pois seu pai atualmente estava se acabando na bebida, Arny com muito cuidado se aproxima de sua mãe e a beija sua testa ( mal sabe Army que sua mãe sempre o espera sair para poder descansar e verificar se ele comeu antes de ir à escola).


Ao sai do quarto de sua mãe Arny se depara com uma cena que já comum seu pai tomando resto de bebida então ele ouve:




 Vamos Arny, parado aí por que? vamos logo! preciso trabalhar, e veja se aprende algo de útil na escola hoje, ou quer ser um vagabundo que nem seu irmão?
 
Então Arny resmunga (pelo menos meu irmão não é um bêbedo e está na guerra como um homem, e não vadiando após o serviço nos bares)


Seu pai se vira com os olhos arregalados e diz: O que você falou aí moleque? Arny prende a respiração esperando um belo de um sopapo, mas isso não acontece, seu pai com uma voz raivosa diz: Coma logo ai Moleque e vamos!!!!!


Arny praticamente engole o café da manhã e sua irmã logo diz: Vamos papai o deixe aí não posso de atrasar tenho coisas mais importante a fazer doque ficar esperando esse fedelho magrelo. Arny apenas olha para sua irmã.
Então Army pega sua bolsa escolar:


 
mesmo sendo uma bolsa velha e surrada ele a tem com muito apreço pois foi seu irmão que lhe deu (seu pai diz que deve ter sido roubada, mas Army não acredita)


Arny segue com seu pai e sua irmã na caminhada de seus logos 5 km até o ponto de ônibus, no caminho daquela estrada deserta ele observa a floresta ao fundo isso o deixa arrepiado em alguns momentos (mas logo passa ao sentir o cheiro de bebida de seu pai).


A única coisa que o faz não se cansar na sua ida a escola é a encantadora Suzanna que o faz sua imaginação fluir, mas seus pensamentos são interrompidos com o som do ônibus. Seu pai logo diz: Corra moleque falei pra se apressar!!!  seu pai e sua irmã correm a frente e Arny começa a correr também, seu pai acena para motorista parar.


Motorista Logo diz: Vamos tenho que chegar no horário ou vocês irão pagar meus descontos por me atrasar, Arny ao entrar no ônibus vê que está cheio como sempre.


O motorista Jack o olha e balança a cabeça, e dá uma arrancada com o ônibus e Arny tem que se segurar firme para não cair.
 
Sua irmã já arruma um lugar para se sentar uns rapazes como sempre a corteja e se levantam, Arny apenas olha, seu pai se em consta perto da janela do onibus e vai cochilando.


Algumas pessoas parecem olhar para Arny ele fica meio sem jeito e se senta no chão do ônibus até chegar a escola.

O verão havia chegado na pequena cidade de Everet Falls, a fauna parecia mais ativa, os pássaros mais livres arriscavam pequenos rasantes sobre o centro da cidade, cães e animais silvestres podiam ser ouvidos no inicio da manhã de todos os dias, e seus cidadãos se preparavam para algumas semanas do famoso almoço comunitário para celebrar 163 anos da fundação da cidade.

Arny abre seus olhos negros e se meche na sua cama simples, feita de madeira e ainda um colchão forrado com palha. Ele estava no começo dos seus 14 anos, tinha uma constituição magra, dedos finos, mas que de alguma forma o fazia ser ágil para a idade.

Arny sentia falta quando, em raros momentos, seu pai era simpático com ele e o levava para a floresta para aprender a atirar, foram muitos tiros, mas devido as condições financeiros precárias, as armas tiveram que ser vendidas, o que afastou seu pai mais ainda.

Estava escuro ainda, e seria uma longa caminhada de 5 KM, até o local onde o ônibus os levaria para a cidade, mas Arny estava acostumado e devido ao horário, sempre fazia esse caminho com seu pai, em algumas ocasiões teve que fazer sozinho com sua insuportável irmã, e aquela floresta ao longo da estrada de certa forma o assustava sempre.

Após satisfazer suas necessidades higiênicas, Arny se arruma com as poucas roupas que tem e vai até a cozinha. Sua pobre mãe ficara trabalhando até a madrugada, mas sempre deixava o lanche pronto para seus filhos cuidadosamente arrumado na mesa e sempre acompanhado do maravilhoso suco.

Seu pai estava na pia, bebendo um resto de alguma bebida que Arny não tinha interesse em saber qual era, sua irmã estava pronta, na porta da saída com aquele mal humor estampado em seu semblante aguardando ele e seu pai.

Seu pai se vira para ele e diz:

- Vamos Arny, parado aí por que? vamos logo! preciso trabalhar, e veja se aprende algo de útil na escola hoje, ou quer ser um vagabundo que nem seu irmão?

Dizendo isso, o senhor Josias acende um cigarro e vai até a porta da frente esperá-lo. Arny nunca havia entendido o conflito de seu pai com seu irmão, era muito novo quando ouvia os gritos das discussões entre eles e muitas vezes a surra que seu irmão tinham que aguentar, mas isso não era nada comparado a ter que suportar o choro da sua mãe. Arny ouvia tudo embaixo do cobertor, desejando sumir, desejando estar longe de tudo aquilo;

Nascido na Pensilvânia em 15/01/1958. Possui um irmão mais velho de 20 anos, chamado André e uma irmã de 16 anos chamada Sofia, sua mãe se chama Sra. Margareth e seu pai Sr. Josias Webstem.
Arny, hoje 14 anos, se mudou para Everet Falls a cerca de 1 ano apenas. Seu pai, após convocação de seu filho mais velho para o Vietnã, e com dificuldades financeiras, se mudou para Everet Falls para aceitar um emprego limpando terrenos para a prefeitura e sua mãe costura para ajudar na renda.

Sua família mora numa casa simples, no subúrbio da pequena cidade, um lugar afastado, que nem sequer havia asfalto e a iluminação pública era bem precária. Um bairro de negros estrategicamente deixado mais afastado do centro.



Arny tem como orgulho seu irmão mais velho, que não o vê a 2 anos, e deseja também servir na guerra quando chegar sua hora. André sempre lhe escrevia cartas e lhe enviava fotos, o que fazia com que Arny deseja encontrá-lo para servir a guerra juntos, mas ele sabia que seu irmão evitava ir para sua casa em razão das constantes brigas com seu pai. 



Josias Webstem, seu pai, era um homem alto, trabalhador mas bebia muito. Por vezes Arny era avisado para buscá-lo em algum bar da cidade para  juda-lo a chegar até a sua casa. Eles não tinham carro, e por vezes dependiam apenas do único ônibus que os deixavam a 5 KM do seu bairro.



Sua irmã Sofia, procurava não ter muito contato com Arny, ela detestava Everet Falls, e deseja sair o mais rápido possível, por isso, procurava estudar muito para ser aceita em qualquer faculdade e detestava trabalhar.



Sua mãe Margareth, era a razão por que muitas vezes pensava em vencer na vida para lhe dar uma condição digna de uma rainha. Ela era batalhadora, muitas vezes Arny presenciava sua mãe pela madrugada costurando para poder garantir o alimento da sua família, mas a vida em Everet Falls estava muito difícil.



Mas o sonho de Arny era sua companheira de sala, a bela Suzanna Orbs, filha do Xerife Orbs, Seus olhos verdes e sorriso fácil o encantavam, ele imaginava um dia chegar de Cadilac na cidade com ela ao seu lado, mostrando a todos que havia vencido na vida e conquistado não só uma vida digna para sua mãe, como também o amor de Suzanna.