BERNARD "BUCK" LOMBARDI

Ao ouvir que a vidraça da loja havia sido quebrada Buck balança a cabeça negativamente. Ele sabia muito bem o que estava acontecendo.

- "Como não conseguiram me encontrar na saida da escola ontem, resolveram me atacar de outra forma. São uns cretinos"

Após colocar uma roupa e enquanto ia para a loja com seu pai ele diz:

- "Ontem na escola uns caras ficaram implicando comigo, eu não dei bola e acho que isso irritou eles. Um tal de Brad e mais uns moleques que andam com ele, tenho certeza que foram eles que jogaram a pedra na vidraça."

- "Se o xerife falar com o senhor de novo, pode falar para ele que estes caras devem ter feito isso"

Buck ajuda seu pai limpando o interior da loja, recolhendo os cacos de vidro e colocando uma madeira no lugar da vidraça para manter a loja minimamente em ordem para o dia seguinte.

Enquanto faz isso, Buck acha a pedra que jogaram e a guarda com ele

Ao voltar para casa, Buck deita para aproveitar o pouco tempo de sono que ainda teria.

Logo pela manhã Buck reúne seu material escolar e coloca seu soco inglês no bolso e faz um laço na pedra que recolheu de dentro da loja.

Ele come seu farto café da manhã, com panquecas, suco de laranja e bolo de nozes e vai para escola

- "Papá, hoje não vou acompanha-lo até a loja, vou direto para escola"

Buck queria chegar cedo na escola

- "Eu preciso falar com o Berny, ele conhece bem a cidade e deve saber onde aqueles vagabundos moram. Esse tipinho sempre é valentão quando esta em grupo, mas vamos ver no mano a mano como eles se comportam"

Ao chegar na escola, ainda haviam poucos alunos. Ele entra na sala e coloca a pedra com um laço de presente no assento de Spinosa e volta para o pátio, onde normalmente ficava até o momento do inicio da aula.

Buck é despertado pelo som da campainha da sua casa, ele olha para a janela do seu quarto e a manhã parecia estar apenas começando.

Do outro lado da cama, ele olha para o relógio deixado no criado mudo, eram apenas "05:58" da manhã...

Sua curiosidade fica mais afiada quando ele repara em uma luz estranha vindo do lado de fora da sua casa, que refletia na janela e paredes. Buck se levanta, passa suas mãos em seu rosto, por que ainda era muito cedo para ir para a escola. Ele então sai do seu quarto e caminha até as escada, e lá de cima, observa seu pai, parado na frente da porta de entrada conversando com o Xerife Orbs, com o giroflex ligado.

 

Buck desce as escadas, sabendo que alguma coisa havia acontecido, e quando se aproxima e se posiciona na frente com seu pai, acompanha a conversa dos dois.

- ...Francamente Xerife, que absurdo! logo na nossa cidade? um vandalismo desse? total absurdo! bom... irei me vestir e me dirigir até nossa loja.

O Xerife, arruma sua cinta e diz ao Sr. Lorenzo

- Muito bem Sr. Lorenzo, fique ciente que esse tipo de coisa não sairá sem consequências ao, ou aos delinquentes, o que é certo é que foi um ato de vandalismo, pois achei um tijolo dentro a sua Loja em meio a vidraça quebrada.

- Sim...sim Xerife, agradeço sua atenção, bom... irei me arrumar e ir até a loja arrumar tudo o quanto antes, Muito Obrigado.

O Xerife Orbs se despede do senhor Lorenzo e dai fechando a porta se vira para Buck e a sua mãe que acabara de chegar, vestindo seu roupão.

- Buck, se arrume e me acompanhe para a loja, parece que arruaceiros quebraram nossa vidraça...

Sua mãe logo coloca as mãos no seu rosto

- Minha nossa que horror!

- Sim amor...um absurdo, mas logo iremos passar por isso, foi só um vidro, vamos Buck!

Buck observa seu pai subindo as escadas e se dirigindo para seu quarto para se arrumar, mas algo diz a ele que a "Gang do Brad" poderia muito bem ter feito aquilo, de forma a atingir Buck indiretamente...

Aquela era mais uma manhã dentro dos padrões que Buck estava acostumado desde de que havia se mudado para Everet Falls. Seus pais demonstravam uma animação e felicidade bem diferente daquela que tinham em nova Iorque. Não que eles fossem tristes por lá, também eram felizes, mas parecia que aquele novo inicio renovou o animo deles.

Talvez pelo fato de que o aluguel da rotisseria era menos da metade do que pagavam na Cozinha do Inferno, e receber boa parte dos produtos de Nova Iorque pagando mais barato que eles pagariam por ali permitiam que eles vendessem os produtos por um preço justo e ainda ter um bom ganho ao final do mês.

Certa vez Buck havia questionado por que não vender pelo preço de Nova Iorque e seu pai lhe explicou:

 - "As pessoas daqui ganham menos, não seria correto de nossa parte deixar que somente meia dúzia de pessoas desta bela cidade comprar na nossa loja. O certo é o certo e se você tem dúvida, deve ser errado."

Buck é acordado de suas divagações quando seu pai o abraço e começa a falar sobre discotecas e noites de amor com sua mãe, isso é deixa levemente constrangido. Ele sabia muito bem o que era isso, mas ouvir disso do seu pai não era o que ele esperava, ou gostaria de ouvir e ele se levanta dizendo.

 - "Deixe eu lavar o rosto e vir comer o café da manhã antes que o papai resolva entrar em detalhes... " - ele ri e vai até o pequeno banheiro social do andar térreo lavar o rosto



Buck se senta e toma um grande copo de leite com chocolate, panquecas com bordo e bacon e uma fatia de torta de maça ao final, sua vontade seria repetir cada um dos pratos e talvez incluir alguns ovos mexidos, mas ele precisava ir para a escola.

- "O café estava ótimo mãe, mas preciso arrumar as coisas para ir para a escola."- Buck coloca mais uma fatia de bacon na boca e sobe as escadas comendo mais uma panqueca

Ele coloca os cadernos e os livros na sua mochila e olha no fundo do armário alguns dos itens que carregava consigo quando estudava em Nova Iorque e percebe que nunca precisou deles desde de que se mudou para Everet Falls

 - "Quem diria, talvez ter mudado para esta cidadezinha tenha sido mesmo bom para todos nós. Papá e mamma estão felizes, Ollie esta estudando e vindo nos visitar e eu estou finalmente estudando sem ter problemas"

 - "Buck! Vamos" - seu pai lhe chamando o faz recordar que estava atrasado já e ele desce correndo as escadas.

Ao chegar na rotisseria da sua família ele encontra o senhor Finn. Era um bom senhor, apesar da pouca experiência na cozinha ele aprendia relativamente rápido e o mais importante, ele era um homem interessado em aprender e de boa indole.



Ao entrarem na loja ele já estava atrás do balcão, colocando a primeira fornada de pães nas bandejas e diz:

 - "Bom dia Senhor Lombardi, os pães estão prontos e já coloquei as tortas no forno."

Seu pai sorri enquanto coloca seu avental e acena a cabeça positivamente:

- "Muito bom senhor Finn, e hoje vamos trabalhar em mais alguns doces para o senhor aprender. Buck, pegue algo para o seu lanche e vá para a escola, quando começarem as férias você poderá passar tempo conosco, mas agora você tem que estudar."

Buck concorda pega alguns canollis do dia anterior, dois pães de torresmo e um empadão, antes de sair ele pega mais um canolli para ir comendo enquanto caminha para a escola.



- "As férias já estão quase chegando, vou poder passar mais tempo na rotisseria e quem sabe ficar mais tempo com o Ollie e ver como ele faz aquelas contas para o papá. Espero que o Jason não insista para eu entrar no time de futebol, não quero passar as férias enfiando no campo tomando pancada na cabeça..."

- "Ainda tem o tal clube de biologia que o Carl tinha falado. Nas férias eles fazem alguns passeios pelas matas para ver plantas, aves e cogumelos. Dizem que o tal do Greg já ofereceu maconha para eles no verão passado... este clube pode ser interessante, pelo menos não vou ficar só dentro de casa ou da rotisseria e pode me ajudar a fazer algumas amizades"

 - "Mas nada será como abrir um hidrante no verão e ficar rua se refrescando, igual ao que eu, Willy Naso e o Paty Tip Tap faziamos. Bons tempos, quem sabe papá deixa o Ollie me levar para a Cozinha do Inferno em um final de semana para eu rever os ragazzi"

Perdido em pensamentos Buck nem percebe que já estava nos portões da escola, ele limpa o açúcar de confeiteiro da cara com a manga da camisa algumas vezes, não queria dar qualquer tipo de munição para algum engraçadinho tirar sarro dele e ele ser obrigado a ensinar bons modos.

Buck abre calmamente seus olhos e se depara com o som do amanhecer em Everet Falls.

Era uma manhã muito diferente da Cozinha do Inferno (NY), havia sons de pássaros, farfalhar das folhas sendo arrastadas pelo vento suave da manhã, e o melhor de tudo, era quase a chegada das férias escolares.

Buck se levanta e se espreguiça calmamente, seu quarto era grande, com alguns quadros dos jogadores mais importantes da liga de Baseball de NY, como os Yankees e escondido dentro de uma caixa, nos fundos do seu armário, uma coleção de brinquedos que não usava mais. Mas o mais importante, ficava escondido numa fresta entre sua cama e o colchão, a revista da playboy número 06 de 1972, que ele guardava com muito apreço.



Ao contrário dos cidadãos que moravam no subúrbio, Buck, residia num bairro muito bonito, arborizado e próximo ao centro, não eram considerados ricos, mas seus pais sempre foram bem conhecidos em saber muito bem o que fazer com o dinheiros deles, e com essas economias puderam abrir um negócio em Everet Falls e comprar uma bela casa com muito trabalho, coisa que teriam mais dificuldade com o custo de vida em Nova York. 




Buck podia se considerar um afortunado, e quando finalmente sua mente se comunica com seu corpo e juntos se fundem com a função de movimentar Buck,  ele sai de seu quarto e adentra a cozinha.

Seu pai estava ali, dançando junto à sua mãe, ao som de um disco que ficava numa pequena mesa no canto da sala, mas a música podia ser ouvida nitidamente. Ambos faziam uma sintonia de alegria e energia, foram definitivamente feitos um para o outro. Talvez Buck nem se lembrasse de quando um dia eles discutiram, possivelmente faziam isso longe dos ouvidos dos filhos, os privando de problemas que ainda não tinham idade para serem devidamente esclarecidos, mas a relação de seus pais era por demais maravilhosa, pareciam dois jovens incautos as vezes. Buck por vezes tinham que aumentar o som de seu toca disco, no quarto, para tentar não ouvir seus pais aos risos no quarto deles...Buck preferia não imaginar o que viria a seguir, agora estava sozinho em casa.

Aos verem ele entrando na cozinha, seu pai abraça sua mãe e a faz girar sobre seus braços, ambos riam, e ao fundo, as panquecas sendo feitas sob olhar de sua mãe preocupada em seguir os passos de seu pai e não deixar a massa queimar.

Buck se senta e fica os olhando, com um pequeno sorriso em seu rosto que não conseguiria esconder.

Assim que o “show” termina, seu pai ofegante, vai até as costas de Buck, que está sentado e o abraça:

- Ahhhh!! Que maravilha de manhã! Meu pequeno Buck, eu e a sua mãe éramos os “reis” das discotecas em NY, hahahahaha, não é minha bela Martina?

Sua mãe apenas ri e seu pai continua:

- Alias... foi após uma noite dessas que você meu filho, nasc...

- Lorenzo!!!

- Hahahahaha, calma Martina! Nosso Buck é quase um adulto! Hahahaha

- Ele ainda é uma criança Sr. Lorenzo, agora se lave e venha comer seu café da manhã.

Seu pai Lorenzo era um homem avantajado em matéria de massa corporal e também um homem alto, com seus 1,92m e cerca 150 kilos.



No centro da cidade, eles tinham aberto uma simpática rotisseria, muito bem quista pela comunidade de Everet Falls, e Buck sempre ajudava quando era possível, mas no momento, nessa manhã de quinta-feira, ele se preparava para mais um dia de aula.

Bernard nasceu em Nova Iorque em 1957 na região da Cozinha do Inferno, filho de um casal de comerciantes de origem italiana passou seus primeiros anos vivendo entre a cozinha de seus pais e as ruas do bairro. 

A comunidade era fechada e uns protegiam os outros, mas internamente haviam as pequenas lutas de poder, principalmente entre os jovens. Olhar os garotos de 15 anos que já fumavam e conseguiam ter dinheiro era como ver os jovens cappos, e a constituição avantajada de Buck o colocava muitas vezes como alvo de valentões e isso o fez aprender a revidar na mesma moeda. Porém havia uma sutil diferença entre Buck e os outros garotos de sua idade, o Senhor Lorenzo Lombardi, seu pai, sempre falava para ele que o “O certo é o certo, e se tiver dúvida, deve ser errado”. Essa frase era martelada em sua cabeça todos os dias e isso era dito tanto para Buck quando para seu irmão Oliver, quatro anos mais velho e bem diferente de Buck. Ele era alto, magro, introspectivo e muito mais inteligente. 

Todo este conjunto único de fatores tornou Buck uma criança diferente das demais, ele estava sempre próximo dos demais garotos e dos “mafiosos”, mas ele não se envolvia nos pequenos trabalhos que eram pedidos e por conta disto era visto como um jovem confiável. Ele podia não ganhar dinheiro como os outros garotos, mas aquilo era o certo, como seu pai sempre lhe dizia. 

Em 1970, já com 13 anos e já muito bem conhecido na Cozinha do Inferno por ser confiável simpático e correto, as vezes até colocando o que considerava correto muito claro para os outros, fosse pelas palavras ou pelos punhos. 

O fato de ter sofrido quando era muito menor o vazia perder a cabeça quando via alguém abusando de alguém menor. Este tipo de injustiça era inadmissível para ele, e isso o obrigou a mudar de escola e perder um ano de estudo. 

Já em 1971 as coisas ficaram complicadas, muito complicadas. Os noticiários não paravam de falar da Comissão Knapp, que estava expondo a corrupção da polícia. Na cozinha do inferno todos sabiam da corrupção e da propina, mas todos tinham o rabo preso, menos um comerciante, o Senhor Lorenzo Lombardi. E com o apoio da comunidade e da máfia local, ele depôs, apresentando uma nomes, datas e valores que fizeram a investigação avançar e colocar vários policiais atrás das grades.

Enquanto seu pai estava no tribunal, sua mãe Martina Lombardi explicava para Buck e para Oliver que eles teriam que se mudar, o certo é o certo, mas nem sempre quem tem que fazer o certo faz. E neste caso, haviam policiais ressentidos e seria melhor para eles saírem de Nova Iorque. 

Oliver não gostou da ideia, ele já tinha 18 anos e estava prestes a entrar na faculdade e isso iria atrasar seus planos. Já para Buck, era um preço justo a se pagar para que pessoas que roubavam dinheiro daqueles senhores que ele conhecia fossem para a cadeia. 

E isso levou a família Lombardi para Everet Falls. Uma cidade que era menor que o bairro que ele morava, com um povo que parecia que havia parado no tempo. 

Por ter perdido um ano ele ainda estava em uma classe com jovens de 14 anos que pareciam que nunca haviam saído dali, e praticamente todos não tinham mesmo. Para a alegria da Senhora Martina, Buck não havia se envolvido em brigas ainda e isso era quase um milagre. 

Seu pai havia aberto um pequeno comercio, uma rotisseria vendendo pães, massas, embutidos e queijos, boa parte produzidos por eles mesmo e outra parte recebida de seus contatos de Nova Iorque. 

Depois de um ano afastado o problema da delação já era passado e a comunidade da Cozinha do Inferna já avisava que podiam voltar, mas tanto Lorenzo quanto Martina haviam se afeiçoado com a pequena comunidade de Everet Falls e optaram por se manter por lá. 

Buck estudava e ajudava na Rotisseria e aproveitava o restante do seu tempo pela cidade, enquanto que seu irmão havia ido para faculdade no início do ano, mas optou por retornar todos os finais de semana para cuidar das finanças da loja.